Cronista e jornalista, Lourenço Diaféria nasceu no Brás, em 28 de agosto de 1933.
Na infância, viveu com sua mãe portuguesa, e seu pai italiano (que queria que ele cursasse direito).
Sua carreira na Folha – e sua própria vida – sofreu uma trombada em 1o de setembro de 1977. Diaféria escreveu uma crônica chamada “Herói. Morto. Nós”. Sua inspiração foi um acidente ocorrido naquele ano no zôo de Brasília: um garoto caiu no poço das ariranhas, que atacaram o “invasor” com fúria incontrolável. Um sargento do Exército saltou no recinto, salvou o garoto e teve uma morte horrível no contra-ataque dos animais.
A crônica tinha o seguinte trecho: “Prefiro esse sargento herói ao Duque de Caxias. O Duque de Caxias é um homem a cavalo reduzido a uma estátua”. Escreveu mais: “O povo urina nos heróis de pedestal”. Diaféria foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional, sofreu processo e foi condenado a oito meses de prisão. Cumpriu em casa. Em protesto, a Folha deixou o espaço de sua coluna em branco. Ele só seria inocentado em 1979.
A vida depois da Folha incluiu crônicas para o Jornal da Tarde, o Diário Popular, o Diário do Grande ABC, quatro emissoras de rádio e a Rede Globo de televisão. Diaféria reuniu esse oceano de crônicas em livros com nomes intrigantes como A Morte sem Colete (1983), A Longa Busca da Comodidade (1988), O Invisível Cavalo Voador (1990) e Papéis Íntimos de um Ex-Boy Assumido (1994).
Diaféria não se afastava de seu território: São Paulo, capital. “Não existe nada mais fácil para mim do que explicar o que vem a ser uma megalópole”, afirmou numa entrevista no ano de 2000. “Megalópole é um molusco invertebrado com várias patas. É uma espécie de gelatina que respira. (...) Megalópole é o mesmo que um x-tudo de pedra, aço, cimento e vidro com bastante mostarda e ketchup.”
Lourenço Diaféria se afastava das crônicas para escrever ensaios sobre suas grandes paixões. Católico praticante, escreveu um livro sobre dom Paulo Evaristo Arns (A Caminhada da Luz). Descreveu seu bairro (em Brás: Sotaques e Desmemórias). Participou de uma coletânea sobre a bela estação ferroviária central de São Paulo em Um Século de Luz. Era também corintiano fanático – e escreveu um livro em homenagem a seu time e ao futebol em geral.
Entrou em 2008 já com um sério problema cardíaco, mas sem parar de trabalhar. Lançou uma coletânea de crônicas chamada Mesmo a Noite sem Luar Tem Lua. No dia 16 de setembro, às 22 horas, Lourenço Carlos Diaféria encontrou seu ponto final num infarto fulminante. Tinha 75 anos e deixou a mulher, Geiza, cinco filhos e três netos.
Não faltou humildade na visão que tinha da própria obra. “No jornal, a crônica é o intervalo do grande espetáculo. Não resolve nada”, escreveu ele no Jornal da Tarde. “Crônica só serve para dar um tempo de o sujeito ir lá fora, comprar amendoim, tomar café, espreguiçar-se. Talvez até seja uma inutilidade.” Ou talvez se torne presença quase obrigatória em livros escolares de todos os níveis.
Frases de Lourenço Diaféria
Motivação não é sinônimo de transformação, mas um passo em sua direção.
Na verdade, não temos saudades, é a saudade que nos tem, que faz de nós o seu objecto. Imersos nela, tornamo-nos outros. Todo o nosso ser ancorado no presente fica, de súbito, ausente.
(Mitologia da Saudade)
Filhos são jóias preciosas de raro valor. Mas que precisam ser lapidados todos os dias.
Aprenda com os erros de outras pessoas, por mais que você tenha uma vida longa não
viverá o suficientemente para cometer todos os erros.
Principais Obras
- Um gato na terra do tamborim (1976)
- Circo dos Cavalões (1978)
- A morte sem colete (1983)
- O Empinador de Estrela (1984)
- A longa busca da comodidade (1988)
- O invisível cavalo voador – Falas contemporâneas (1990)
- Papéis íntimos de um ex-boy assumido (1994)
- O imitador de gato (2000)
- Brás – Sotaques e desmemórias (2002)
- "Para uma garota de quinze anos" (1977)
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